Pe. Gabriel Romanelli, pároco da única igreja católica da Faixa de Gaza, disse que no Natal estão visitando as poucas famílias católicas que vivem no território com uma grande imagem do Menino Jesus, para levar-lhes esperança em meio ao medo pelo aumento esperado dos casos da COVID-19 durante o inverno.
Em declarações a Asia News, Pe. Romanelli confirmou que o aumento dos infectados com o vírus e do número de vítimas na Faixa de Gaza já é “muito alarmante” e que a chegada do inverno suscita ainda mais receios. Nas últimas 24 horas, 1.560 novos casos de COVID-19 e 16 mortes foram informadas nos territórios palestinos; e deles, 689 infectados e 3 mortos são da Faixa de Gaza.
Atualmente, na Faixa de Gaza, há 15.500 infectados e 69 mortos, em uma população de dois milhões de pessoas que viviam em isolamento permanente desde antes da pandemia da COVID-19. Dos portadores de coronavírus, há 92 pacientes em estado grave e apenas 100 leitos disponíveis na UTI.
Os profissionais de saúde alertaram que “os respiradores estão acabando”, assim como os leitos de UTI. O sacerdote contou que os hospitais e unidades de terapia intensiva estão funcionando quase na capacidade máxima e que, dos dois mil exames que realizaram, 800 tiveram resultado positivo.
Segundo o microbiologista Abdelraouf Elmanama, membro do grupo de trabalho local, “nos próximos 10 dias o sistema não será capaz absorver os picos”.
Tudo isso faz com que a população se mantenha em alerta e experimente um “medo mais acentuado”, mas “tentam encontrar a própria normalidade e conviver com o vírus”, disse o sacerdote.
Explicou que, com as restrições do caso e com a participação limitada das pessoas, “muitas atividades ainda são permitidas”, incluindo o ensino presencial nas escolas, a Eucaristia e outras atividades paroquiais.
“Não estamos em um contexto de confinamento total: na escola algumas aulas ainda são presenciais. Na paróquia também permitimos várias atividades, embora com números restritos e protocolos de desinfecção, medição da temperatura à entrada e [necessidade de] uso de máscara”, disse.
“Também retomamos as Missas com a presença dos fiéis” e realizam-se regularmente muitas atividades “de adultos, crianças e adolescentes”, embora com menos pessoas porque “uns têm medo do vírus, outros têm um familiar doente ou infectado”.
Disse que algo positivo é que “com a pandemia, as pessoas entenderam a importância da dieta e da atividade física”. Para o Pe. Romanelli, que a população, “que até agora pouco se preocupou com a saúde”, realize uma simples caminhada é algo bom.
Além disso, assinalou que na Faixa de Gaza “novas medidas estão sendo estudadas” para evitar novos aumentos nos casos de COVID-19. Uma hipótese é que “limitem a movimentação interna, mas dependerá muito dos números dos próximos dias”, disse.
Por isso, diante da possibilidade de um novo “fechamento”, os católicos já começaram a realizar algumas iniciativas relacionadas ao Natal para fazer as famílias cristãs sentirem que a Igreja Católica está perto delas em meio a este clima de grande incerteza.
“Somos extravagantes e já começamos a visitar as casas com a grande imagem do Menino Jesus, aquela que usamos para a adoração durante a Missa do Galo. A fé nos move, porque a oração destes tempos pode ajudar, por isso seguimos em frente, porque não sabemos o que vai acontecer, se vai haver mais fechamentos”, afirmou.
O sacerdote disse que embora os cristãos, como a maioria dos habitantes da Faixa de Gaza, “tenham visto de tudo, não nos falta esperança, mesmo quando as pessoas estão acostumadas ao sofrimento”. No entanto, disse que “a proximidade do pároco, da Igreja, fez-lhes perceber que não estão abandonados”.
As circunstâncias humanitárias para os cristãos de Gaza pioraram desde que o grupo radical islâmico Hamas assumiu o poder em junho de 2007, levando a um bloqueio israelense que restringe o fluxo de mercadorias comerciais para a Faixa.
Segundo a Cáritas Internacional, 80% da população de Gaza vive abaixo da linha da pobreza. Hoje, os cristãos na Faixa de Gaza são menos de 1.000 em uma população de 1,8 milhão, menos da metade do que eram há dez anos.
Até agosto, Israel e Egito bloquearam a Faixa de Gaza para conter a disseminação da COVID-19. Esta medida foi eficaz no início, conforme confirmado pelo Pe. Romanelli numa entrevista anterior, onde disse que ter poucos casos de infectados em uma região tão pobre como Gaza é algo “milagroso”.
Em 15 de novembro, as autoridades impuseram várias restrições, incluindo a proibição de viagens para as áreas mais afetadas, o fechamento de lojas comerciais a partir das 17 h e a proibição de reuniões de mais de 15 pessoas em locais fechados.
Fonte: acidigital